terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

História do Videokê

Quando o Kasato-Maru, o primeiro navio a trazer imigrantes japoneses, aportou em santos, trouxe consigo a cultura de um pólo festivo e que introduziu no cotidiano da colônia nipo-brasileira que se instalava, muitas festividades típicas japonesas, uma vez que esses colonos na sua maioria, procedia de regiões rurais.

A música já integrava a cultura japonesa e sendo assim, em eventos como inaugurações de colônias, aniversários, chegada de convidados, os japoneses reuniam-se no galpão ou casa do líder da comunidade local e iniciava-se uma solenidade informal que consistia em uma improvisação de canções acompanhadas de palmas que marcavam o ritmo, enquanto os demais convivas proseavam alegremente. Com o passar do tempo, essas atividades foram se tornando mais organizadas e formais, surgindo então o “engueikai” – uma espécie de show de variedades – com a apresentação de coros infantis, shows de acordeom e gaita de boca, peças teatrais pedagógicas, leitura de histórias moralistas, danças, rokyoku (gênero popular narrativo do início do século), melodramas, peças militares, tragédias tradicionais, enfim, vários elementos da cultura tradicional japonesa.

Em 1946, no Japão, surgiram conjuntos de amadores que gravavam pela primeira vez, números originais de melodias japonesas, mas o que realmente marcou época, foi o “nodo-jiman”, que vem da fusão de duas palavras japonesas: nodo – garganta ou voz que canta, jiman – orgulho. Numa tradução mais aproximada, poderia ser “orgulho de cantar”. Esse evento era uma variedade do conhecido “Show de Calouros”, pois com a recuperação da indústria da música e cinematográfica no pós-guerra, estruturou-se um sólido “sistema de astros” e, o nodo-jiman, proporcionava aos populares a oportunidade de tornarem-se astros durante o breve tempo de apresentação.

Ao final da década de 50, as emissoras de rádio, jornais e estabelecimentos comerciais fundiram-se à estrutura de poder do nodo-jiman, tornando-se assim um importante nicho de exploração comercial, tal a popularização deste tipo de entretenimento, profissionalizando o sistema em si e, no entanto, os cantores na sua grande maioria, permaneceram amadores.
Somente em 1970 é que se passou a utilizar a aparelhagem eletrônica para o karaokê, onde gradativamente as orquestras foram sendo substituídas pelos “playbacks” que, além de mais perfeitos que as orquestras humanas, poderiam oferecer um repertório mais variado e as gravações eram feitas geralmente meio ou um tom abaixo do original para facilitar para os cantores menos preparados.

No Brasil, como não poderia deixar de ser, o primeiro karaokê foi inaugurado no bairro da Liberdade, considerado como o bairro japonês mais importante do Brasil, e contava apenas com playbacks de músicas japonesas e alguns sucessos populares da música de língua inglesa. Era o ano de 1972.

Dois anos após, uma importante gravadora instalada no país, lançou um LP intitulado “Você é o Cantor”, e na capa havia a figura de uma pessoa com o rosto escurecido e com um enorme ponto de interrogação, sugerindo que qualquer pessoa poderia preencher aquele vazio emprestando a própria voz, acompanhado pelos playbacks do disco de vinil que eram sucessos na época como, “Feelings” (Morris Albert), “Farofa-fá” (Celso), “1800 Colinas” (Beth Carvalho), “Foi tudo culpa do amor” (Diana), “Charlie Brown” (Benito Di Paula), entre outros. Somente em 1980 é que finalmente instalou-se o primeiro karaokê que, além das já tradicionais músicas japonesas e de língua inglesa, apostou em um novo estilo de música que não existia na época: a música popular brasileira. Esse visionário procedente da região de Okinawa, no Japão, implantou um estilo de karaokê que vem de encontro com a carência do público de então, o estilo brasileiro de ser. O que os brasileiros mais desejam é expressar alegria com o canto, e através do mesmo ritmo, unir mais multidão anônima de uma só vez. Já os japoneses, que têm uma postura mais formal, desejam demonstrar um distanciamento pessoal do rígido sistema de vida cotidiana, garantindo assim, o sucesso do karaokê, que justamente advém da necessidade que o povo tem de se estabelecer um esquema para se expressar de forma liberal e individual, fugindo ainda que momentaneamente, do forte estresse imposto pelas cobranças morais e sócio-econômicas de sua sociedade.

Com o sucesso desse karaokê, que instalou-se no bairro do Bexiga, à Rua Passalacqua, 07, e que chamou-se sugestivamente “Desafinado”, foi copiado por toda uma geração de casas que vieram a surgir com o “boom” de karaokê, em meados dos anos 80, fazendo com que o sistema se sofisticasse com o aprimoramento cada vez maior do aparato eletrônico, atingindo níveis profissionais que produziram verdadeiros palcos de shows ao vivo, de grandes artistas. Poderíamos citar algumas casas de karaokê que representam o apogeu desse tipo de entretenimento. Além do “Desafinado”, “Bom de Bico”, “Espaço Amador”, “Canto Livre”, “97 Light’s Club Karaokê”, “O Canto”, “Lullaby”, “Shogum”, “Astros e Estrelas”, “Encanto Karaokê”, entre outras.

No que do surgimento de casas de karaokê, São Paulo contou com quase 100 karaokês espalhados pelos bairros comercias da cidade. Após o fulgurante “boom” desse entretenimento, restaram apenas algumas poucas casas melhores estruturadas e parecia que iria desaparecer esse tipo de entretenimento e que era apenas uma questão de tempo. No entanto, o espírito incansável de alegria dos brasileiros, continuam a sustentar essas forma de diversão por anos a fio e então, como que renascido das cinzas, acontece o surgimento de um recurso já utilizado para as músicas internacionais, agora também aparece para a música nacional. O recurso áudio-visual.

Um empresário coreano, aficionado por karaokê, em uma de suas viagens à sua terra natal, resolveu implantar um aparelho que já existia por lá e que oferecia o recurso que ainda não existia para a música brasileira e que poderia ser mais facilmente reproduzidos os playbacks com o emprego do computador. Assim, nascia o “Videoke”, termo criado exatamente para ilustrar o que esse aparelho oferecia: karaokê com recurso de vídeo, onde se acompanha a letra por um monitor de TV, que vai mudando de cor sincronizada com a música, facilitando consideravelmente para os cantores menos preparados. Além do recurso áudio-visual, esse aparelho, uma espécie de microcomputador por seu princípio de funcionamento, é exatamente igual; proporciona a possibilidade de trocar o tom da música de maneira que qualquer pessoa possa cantar músicas de qualquer cantor, bastando para isso, ajustar o tom da música para a sua própria voz. Era o ano de 1994.

Esse aparelho popularizou-se e espalhou-se pelo Brasil, ganhando notoriedade e teve seu ápice ao aparecer com forma de entretenimento em um programa dominical, o “Programa do Faustão”, na maior rede de TV do país. Como não poderia deixar de ser, com a popularização do videokê, outras empresas também entraram com investimentos nesse setor de entretenimento que certamente atinge a milhões de pessoas que estão esperando por novidades saudáveis de diversão. No esteio das novidades, surge o Vídeo Karaokê Sega, que implementa alguns recursos que o videokê não tem a possibilidade de disponibilizar, colocando um cantor que, através do controle remoto, pode aparecer ou não para auxiliar-nos cantores menos experientes. Diferentemente do sistema anterior, esse é gravado em CDs no formato VCD (Vídeo CD) com imagens em movimento, possibilitando a criação de clipes que ilustram e dinamizam a canção executada, tornando-se um atrativo interessante para o karaokê, a exemplo do LD (Laser Disc) que existe no Japão desde o início dos anos 80, e que aqui no Brasil não emplacou.

Parecia que finalmente o karaokê teria alcançado a última fronteira tecnológica com as imagens e sons digitais do vídeo CD e, eis que surge uma grande empresa do setor eletrônico, a Gradiente, interessada em investir nesse tipo de entretenimento e num tipo de mídia que já estava em franca expansão no resto do mundo: o DVD. Os recursos de qualidade de imagens e som do DVD vieram para revolucionar as formas de karaokê existentes, abrindo novas possibilidades além das apresentadas pelos aparelhos anteriores.

A principal novidade é um menu interativo de karaokê que você poderia, caso haja na gravação, ser acompanhado por uma segunda voz ou um guia de melodia, para orientar os cantores menos preparados, com dificuldade de afinação.
O grande impulso do karaokê veio a partir do momento que a música nacional dominou o cenário musical brasileiro e as produtoras dessas gravações de músicas de karaokê, direcionaram seus investimentos em músicas brasileiras.

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